8 de jan. de 2014

Todo Dia - David Levithan

postado por Caleb Henrique


Galera Record, 2013, 280 páginas. (Skoob) 
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Neste novo romance, David Levithan leva a criatividade a outro patamar. Seu protagonista, A, acorda todo dia em um corpo diferente. Não importa o lugar, o gênero ou a personalidade, A precisa se adaptar ao novo corpo, mesmo que só por um dia. Depois de 16 anos vivendo assim, A já aprendeu a seguir as próprias regras: nunca interferir, nem se envolver. Até que uma manhã acorda no corpo de Justin e conhece sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, todas as suas prioridades mudam, e, conforme se envolvem mais, lutando para se reencontrar a cada 24 horas, A e Rhiannon precisam questionar tudo em nome do amor.

Avaliação: 5/5

O anúncio do lançamento de every day em solos tupiniquins levou muita gente a loucura e raramente ouvia-se falar de leitores assíduos ou bloguistas que não quisessem conhecer mais da estória de A. Eu, certamente, mal podia esperar pelo lançamento. Dei início à leitura do livro pelo Kobo e, como não podia deixar de ser, também adquiri minha obra física. Mas, caso este seja seu primeiro contato com a obra, deixarei que as devidas apresentações sejam feitas por ninguém menos que A, então:


Acordo. Imediatamente preciso descobrir quem sou. Não se trata apenas do corpo - de abrir os olhos e ver se a pele do braço é clara ou escura, se meu cabelo é comprido ou curto, se sou gordo ou magro, garoto ou garota, se tenho ou não cicatrizes. O corpo é a coisa mais fácil à qual se ajustar quando se está acostumado a acordar em um corpo novo todas as manhãs. É a vida, o contexto do corpo, que pode ser difícil de entender. Todo dia sou uma pessoa diferente. Eu sou eu, sei que sou eu, mas também sou outra pessoa. Sempre foi assim. (pág. 6)


É esta a realidade à qual embarcamos em todo dia. Uma casa e pessoas diferentes a cada dia e alguém tentando sobreviver. Eu honestamente não sei definir A, não sei determinar e aplicar gênero ou os padrões de nossa sociedade. A é e sempre será A. Um dos personagens mais carismáticos, pensativos e incríveis que já fora escrito. Isso me basta. Preciso falar sobre a estória? Preciso! Como vimos: todo dia A acorda em um corpo diferente. Um corpo que não é seu. Vive vidas que não são suas e tenta, ao máximo, não atrapalhar ou participar demais. Mas eis que, em um dia que tinha tudo para ser péssimo, o improvável acontece: A se apaixona. [O QUÊ? SE APAIXONA? COMO ASSIM?! A NEM TEM CORPO FIXO!] Pois é, eu não digitei errado, nem mesmo A está imune ao amor. Mas eis a principal questão: há alguma possibilidade, mínima que seja, de isso dar certo? Digo, é ‘fácil’ amar quando se há presença e proximidade, quando há uma imagem fixa, um rosto para lembrar e no qual pensar. Você, por exemplo, seria capaz de se apaixonar por alguém que não tem corpo fixo e acorda em cidades e casas diferentes todos os dias? Que às vezes vem na forma de uma garota descolada e n’outras na de um brutamonte com dois metros de altura e músculos que parecem pneus? Eis o nosso plot. Pense a respeito.

Genial é pouco para definir esta ideia do David Levithan, menos ainda para definir o nível de envolvimento que ele nos permite ter com a trama e suas personagens. Isso sem mencionar a escrita gostosa e inebriante, que pode fisgar por horas a fio sem que cansemos. A estruturação capitular de todo dia é outro aspecto que acho interessante frisar. Não se tratam especificamente de capítulos numerados, mas de dias. Alguns curtos e outros tantos tão bons que rezamos para que não venham a findar-se. Li os primeiros capítulos em inglês, então, posso afirmar que a tradução da Ana Resende está fiel, clara e de encher os olhos.

Tratando-se de personagens eu gostaria de confessar que eu quero casar com a Rhiannon. Ponto. [ERA UMA VEZ A E RHIANNON, BLÁ-BLÁ-BÁ, AÍ O CALEB SURGIU, ELA SE APAIXONOU, ELES CASARAM E TIVERAM MUITOS FILHINHOS. FIM.] Sério, o livro possui diversos e ao mesmo tempo não tantos personagens, mas todos são dotados de personalidade própria e cativam à sua própria maneira.

Este é um livro no qual você ri, chora, torce e se desespera, depois volta a sorrir ou a chorar [NÃO PRECISAMENTE NESSA ORDEM] e termina com a sensação de “Por favor, eu preciso de mais!”, mesmo sabendo que este é um livro que pode muito bem dispensar qualquer sequência. Mas o David é legal e lançou, em formato digital, um pequeno prequel chamado six earlier days ou seis dias anteriores em tradução literal que, tal qual o título indica, fala de seis dias aleatórios da vida de antes do dia 5.994, que é o que dá início a nossa história. Vi, recentemente, que foi anunciada uma sequência intitulada de rihannon, com previsão de lançamento para 2015 e, sendo bem honesto, não sei bem o que pensar sobre isto, uma vez que parte de mim fica todo eufórico por saber que verei mais da Rihannon [POR SEUS OLHOS DESTA VEZ] e parte temeroso, porque acredito que a estória já foi contada.

Esta não é a história da primeira vez que me apaixonei por um livro, tampouco da última, mas — ignorando completamente a ordem cardeal — esta é uma de minhas melhores histórias de amor. Indico, portanto, este livro a qualquer um que queira se aventurar por grandes emoções e ter sua vida mudada drasticamente, para melhor. todo dia é um livro que muda e preenche. Um livro que se ama e se vive. Um livro que merece viver para sempre e ser lido por cada habitante deste planeta. [ACREDITE EM MIM, EU LERIA SE FOSSE VOCÊ]. Se decidir se aventurar por estas incríveis 280 páginas [OU JÁ SE AVENTUROU], peço que volte e me diga o que achou, ou mais: o que sentiu. Se não, questiono: por que não? [E ESPERO QUE TENHA UMA BOA RESPOSTA]. Sem dúvidas se tornou um dos meus livros prediletos.

Preciso confessar que considero meu quote predileto como spoiler, então, selecionei um curto, mas que leva a refletir sobre nosso inusitado personagem:

Na minha experiência, desejo é desejo, amor é amor. Nunca me apaixonei por um gênero. Apaixonei-me por indivíduos. Sei que é difícil as pessoas fazerem isso, mas não entendo porque é tão complicado quando é tão óbvio. (pág. 123)

Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.