Enveredando pelo universo dos primeiros encontros, dramas familiares, novos amigos, sexo, drogas e daquela música perfeita que nos faz sentir infinito, o roteirista Stephen Chbosky lança luz sobre o amadurecimento no ambiente da escola, um local por vezes opressor e sinônimo de ameaça. Íntimas, hilariantes, às vezes devastadoras, as cartas mostram um jovem em confronto com a sua própria história presente e futura, ora como um personagem invisível à espreita por trás das cortinas, ora como o protagonista que tem que assumir seu papel no palco da vida. Um jovem que não se sabe quem é ou onde mora. Mas que poderia ser qualquer um, em qualquer lugar do mundo.
Avaliação: 5/5 + FAV.
Repleto de tiradas e passagens (às vezes dolorosamente) divertidas
e uma melancolia velada e intrínseca presente na inocência de
um personagem pelo qual é impossível não criar empatia
esta é uma obra daquelas que guardarei com carinho no peito e na estante
e tentarei esquecer, só para poder sentir tudo outra vez,
como se fosse a primeira.
Mesmo com a certeza quase palpável do passar do tempo e a sensação de que tudo muda, a cada minuto passado — e de que é impossível viver um momento mais de uma vez da mesma maneira. Todos nós já nos sentimos infinitos alguma vez.
Apesar das dezenas de indicações, confesso que demorei cerca de um ano até finalmente dar início à leitura da consagrada obra de Stephen Chbosky. No momento gosto de pensar que eu fiz bem em esperar tanto, pois de outra forma, talvez, não tivesse tido a mesma compreensão ou a enxergaria com os mesmos olhos — ou talvez tenha sido apenas mais um livro injustiçado que eu realmente deveria ter lido antes, o que de fato não tem mais importância, pois, cedo ou tarde: o fiz.
O livro é inteiramente composto por cartas do jovem Charlie, endereçadas a alguém que não o conhece (embora eu ainda ache que foram para mim), mas que todos dizem ser muito legal. E é através destas cartas, então, que passamos a conhecer Charlie, seu mundo e as pessoas que lhe rodeiam.
O Charlie possui uma maneira muito peculiar de enxergar as coisas e eu, particularmente, acho quase impossível não criar o mínimo de empatia que seja por ele. Eu poderia simplesmente dizer que ele vê o mundo com outros olhos — e não estaria mentindo, mas essa me parece uma definição muito vasta. Para ser bem franco: a personagem e suas cartas são tão repletas de vida própria que ainda me é custoso acreditar terem sido escritas pelo Chbosky. E não apenas ele, mas todas as outras personagens desta maravilhosa, divertida e, por vezes, esmagadora obra.
A estória tem início e é inteiramente ambientada nos primórdios da década de noventa — em agosto de 1991 para ser mais exato (pouco menos de dois meses antes do meu nascimento, veja só), então é de se esperar várias menções a coisas corriqueiras da época, como por exemplo: as diversas playlists e músicas citadas, na maioria das vezes tendo aparição por meio das famosas fitas k7 — que possuíam um significado imensamente grande. E sinto-me na necessidade de destacar um outro ponto: os livros indicados pelo professor Bill e as análises do Charlie sobre eles, sobre os quais eu poderia discorrer mais e mais, mencionar os pontos em que concordei, discordei ou me encantei ao ponto de anotá-los para encaixar em minha lista de leitura, mas não tenho a pretensão de estragar as descobertas de ninguém.
De forma sucinta, mas incrivelmente bem feita, o autor aborda temas que eram e continuam sendo tabus em nossa a sociedade. Além de ser um prato cheio para aqueles que, como eu, são fascinados pela estruturação psicológica das personagens. Há muito a ser absorvido e uma porção de risadas (e lágrimas) em suas páginas e eu não consigo ver a hora de poder reler e, uma vez mais, me sentir tão infinito quanto o Charlie, a Sam e o Patrick. E aos leitores de todos os gêneros, afirmo: você precisar ler este.
No aspecto físico a Rocco deu um aspecto bem legal ao livro, com uma diagramação simples, mas agradável e um espaçamento bacana entre as linhas. Conseguiram fazer mais com menos. Isso sem contar com a tradução impecável, claro. E, para apetecer um pouco seus olhos antes de finalizar, separei um de meus inúmeros trechos prediletos:
(...) ele gosta de tirar fotografias. Eu vi alguma delas e são muito boas. Tem uma foto da Sam que é simplesmente linda. Seria impossível descrever como é bonita, mas vou tentar. Se você ouvir a canção ''Asleep'' e pensar naqueles lindos dias de chuva que fazem você se lembrar das coisas, e você pensar nos mais belos olhos que já viu, e você chorar, e a pessoa abraçar você, então eu acho que você vai ver a fotografia.
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.