26 de fev. de 2013

Diário de Bordo #14

postado por Caleb Henrique


Olá, Viajantes!

Uma notícia terrível: ESTOU TEMPORARIAMENTE SEM INTERNET, sério, não sei o que houve, então os posts dessa semana serão feitos às pressas, tal qual este. Sorte eu ter amigos que mais parecem anjos e me deixam usar e abusar de vossa internet, então, vamos ao texto? 


00h00m 


Tique-taque, tique-taque, tique-taque, o relógio marcava 00h00m. Era o inicio de um novo dia.
Será que algo mudou no instante em que os três ponteiros alinharam-se diante do décimo segundo numeral do relógio de parede? Talvez tudo tenha mudado. Talvez nada. De qualquer modo, a pergunta mais propícia ao momento era: Queria que algo mudasse? Esperava por isso e não percebia? Mas não queria pensar a respeito, preferia não pensar sobre nada. Preparou-se então para dormir. Essa noite o sono demorou um pouco mais que o habitual para vir. Queria que seu celular tocasse. Ansiava por isso, na verdade, mas antes de dez minutos completos já dormia embalada num sono leve e isento de sonhos.
Acordou cedo com o despertador do celular, mas permaneceu na cama um pouco mais, como de costume. Sua mente queria vagar, pensar e libertar-se, mas foi impedida. Não gostava de pensar, mas ainda assim sabia qual seria o primeiro pensamento que lhe viria.

00h00m 


A tela do aparelho celular mostrava aquilo que ele não tinha como esquecer. Era hoje. Lutou contra o impulso de pegar o celular, mas não foi forte o suficiente e agora discava os tão conhecidos números que levariam sua voz à dela. “Ela precisa de algo novo”, pensou antes de apertar o botão de discagem. E desistiu. Tinha razão no fim das contas. Pegou um livro e tentou distrair a mente, mas não estava lá verdadeiramente e, pela primeira vez, as palavras pareceram apenas um emaranhado de letras que não conseguia fixar em sua mente. Deixou o livro na cabeceira e levantou-se. Tomaria um banho e dormiria. Demorou no banho, como de praxe. Afinal, lavava sua alma e dores e expulsava seus medos e inseguranças. Estava completamente relaxado. Inteiramente seu. Fitou o espelho e gostou do que viu, aparou a barba, escovou os dentes e vestiu o short folgado com que dormia. Deitou-se e deixou sua mente vagar longe. Perdido em seus pensamentos não viu a hora passar, as coisas mudarem e transformarem-se, nem a noite virar dia. Voltou a realidade com o som do alarme programado de seu celular e surpreendeu-se ao descobrir que passara a noite em claro. Mas de nada adiantaria praguejar ou proferir reclamações. Levantou-se, se aprontou para o trabalho e pensou em como ela estaria e como seria seu dia. Que fosse incrível, desejava do fundo do coração. Que houvesse sorrisos e felicidades inesperados. E boas surpresas. Que a vida a presenteasse com o dia mais incrível que alguém podia ter.

09h30m


Tinha de levantar. Uma hora ou outra precisaria encarar o dia. Então o fez.
Recebera abraços e afagos, ligações e mensagens e foi presenteada com sorrisos.
Separou sua mochila de viagens e nela colocou algumas poucas mudas de roupas por prevenção e preparou-se para partir. Iria a um show. Comemoraria de uma forma que lhe convinha, o show de uma banda pela qual tinha imenso apreço. O que poderia dar errado no fim das contas?
Na parada de ônibus pegou o celular, nenhuma chamada. O aperto no peito crescia. Em pouco tempo estaria viajando e só regressaria depois de dois dias. Queria vê-lo. Talvez por costume. Talvez necessidade. Negava-se a descobrir o motivo, pois assim julgava mais fácil. Pegou o celular e meio hesitante buscou por seu número na agenda. Discou. Um toque. Dois.
— Oi.

11h30m


Passara a manhã inteira lutando contra o impulso de ligar e agora caminhava se sentido vitorioso por ter conseguido ser tão forte quanto planejara. A essa hora ela já devia estar no ônibus. Estava acabado. Era a primeira vez em quatro anos que não lhe daria um abraço nesta data. O incomodo no peito era crescente, mas ainda assim seguiu caminhando, com fones no ouvido e a cabeça nas nuvens. Seu celular vibrou. Uma. Duas. Três vezes. Tirou do bolso e viu a ligação. Seu coração disparou. Era ela. Atendeu.

— Oi — disse o mais normalmente que pôde.
— Ainda no trabalho? — ela perguntou.
— Não, não. Estou no caminho para casa — disse, imaginando se ela já tinha embarcado no ônibus.
— Estou na parada de ônibus. Pode vir até aqui? Eu quero te ver. — sua voz era impaciente e despreocupada. Nunca gostara de esperar, afinal.
— Tudo bem, eu posso. Estou perto.
— Acho que estou te vendo.
— É, eu também te vejo. — disse com um meio sorriso.
Caminhou rapidamente e atravessou a rua asfaltada. Abriu os braços e a acolheu num abraço rápido.
— Feliz aniversário. — disse polidamente.
— Obrigada.

Passaram os minutos seguintes conversando e ouvindo música, até que o ônibus veio. 
Mais um abraço rápido, votos de felicidades e o desejo de que se divertisse no show. Virou-se e começou a caminhar antes de vê-la embarcar. Seu coração estava em frangalhos. A distância entre eles era quase palpável e naquele momento se deu conta de que não importava mais o quanto tentassem. Sempre haveria aquela película entre os dois. Sempre haveria aquela palavrinha de duas letras. Era triste admitir, mas preciso. E no fundo ele sabia que ela teria um bom aniversário. Que pularia e se divertiria. Ela sempre conseguiria ficar feliz com ele longe. A qualquer hora ou situação. Invejava essa capacidade de não pensar, não lembrar e desapegar que ela possuía. E teve certeza de que aquele abraço foi um adeus mudo. Que ele ainda a encontraria, falariam e conversariam, mas que a cada dia estariam um pouco mais distantes. Eis a vida seguindo o curso natural. As pessoas vêm, marcam e partem. Sempre foi e sempre será assim ou, como rezamos na missa, para todo o sempre, amém. 

Caleb Henrique



Então, fico no aguardo do feedback, certo?
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.