Olá, Viajantes.
Estou morrendo de
saudades de vocês, sério.
Demorei uma
eternidade para fazer uma nova postagem porque a semana de trabalho foi corrida
e eu queria concluir a leitura de Contos de Meigan, que por sinal É INCRÍVEL!
Então, em breve tem resenha por aqui. Uma toda especial, por sinal, se o
submarino colaborar e enviar minha câmera que está viajando há quase 30 dias.
Sério, acho que a enviaram dos Estados Unidos, afinal, já recebi livros importados
bem mais rapidamente. Enfim, deixemos minha revolta de lado e vamos a mais um
texto de minha autoria (dos quais vocês obviamente já estão fartos).
─ Vou
querer o mesmo que o rapazote ─ disse um homem de idade avançada que também
acabara de chegar e sentar por ali. ─ Com limão e gelo, por gentileza. —
Virou-se para o rapaz e perguntou — Por que está bebendo meu camarada?
Comemoração certamente não é, pois você não estaria sozinho. Tão moço assim,
certamente está sofrendo por mulher. Estou certo?
Por um
momento sentiu raiva daquele velho intrometido e quis mandar-lhe procurar outro
cara para encher o saco, mas conteve-se. Parecia ser um bom sujeito afinal. Sua
cabeça doía como o diabo e antes que se desse conta estava perguntando — É tão
óbvio assim que eu sou um fodido azarado?
— Ora
vamos, meu amigo. Não fique aí proferindo tolices. O que ela tinha de tão
especial, afinal? — perguntou com um ar compreensivo de quem já teve essa mesma
conversa centenas de outras vezes.
— Era
possuidora do dom de me deixar em paz ou de me tirar toda ela. Levava-me aos
extremos, na verdade; E me fazia bem, mais do que qualquer outra poderá vir a
fazer algum dia. Sinceramente, se um dia me perguntassem 'Qual o traço que
melhor a define?' eu responderia sem hesitar 'Ah, a bipolaridade, meu caro. É
confusa feito o diabo e é isso que a torna perfeita. Eu me apaixonei por
milhares dela. Cada dia uma diferente. Consegue imaginar? Se apaixonar todos os
dias por uma garota diferente e descobrir que mesmo com as mudanças ela
continua a mesma?’.
— É uma
garota rara... — disse com um brilho familiar nos olhos — O moço vai me
desculpando a pergunta, mas não posso evita-la: Se ela é tudo isso para você,
por que não estão mais juntos?
Abriu a
boca para responder, mas foi interrompido pelo barman, que silenciosamente
entregava as doses de uísques aos seus respectivos donos. Tomou metade da sua
em um único gole e teve certeza de que nunca iria se acostumar com aquele ardor
na garganta. Pigarreou e disse finalmente num tom irritadiço ― Ora, meu velho,
não é obvio? No fim ela é igual a todas as outras pessoas do mundo, ficou o
quanto aguentou, mas inevitavelmente partiu; ou o senhor por acaso não sabe que
é sempre assim? Todo mundo vai embora um dia.
As
palavras pareceram atingir o homem como um soco e se o álcool já não tivesse
consumido a maior parte de seus pensamentos teria se desculpado imediatamente,
mas tudo que fez foi fitá-lo com um ar de incompreensão. Que tinha aquele homem
afinal? Porque tanto interesse em sua desilusão? A raiva era crescente dentro
de si.
― Não
seja tolo ― disse o homem ― A vida é muito mais complexa do que o que você acha
que sabe. Nem tudo o que vai volta, é verdade. Mas o destino está traçado, meu
caro. Acredite em mim, eu sei do que estou falando. Você a ama? Levante a bunda
desse banco, vá para a casa, tome uma ducha e durma. Espere a ressaca passar e
vá à luta. Mas antes que cometa qualquer equívoco, alerto: Não seja insistente
e não tente obrigá-la a voltar. Deixe-a livre, mas a deixe saber que você não
desistiu de vocês. Se ela tiver de voltar, o fará por livre e espontânea
vontade.
O
conselho parecia sensato, mas toda angústia que havia em seu âmago se
transformou em fúria e antes que percebesse estava gritando. ― E quem o senhor
acha que é, afinal, para se meter nos meus problemas? Você não passa de um
velho fodido que vem afogar suas mágoas e frustrações numa droga de bar ―
estava acontecendo de novo, pela terceira vez naquela mesma noite. Sabia que
seria expulso.
O velho
caminhou até ele e ao invés de falar mal ou agredi-lo, sussurrou: ― Eu sou
você, meu jovem. O destino está traçado, eu já lhe disse. Vá para casa e siga
meu conselho. Se as coisas tiverem de dar certo, elas darão. Deixe a vida
seguir seu próprio rumo e não sucumba mais ao álcool. Se tiver de sofrer,
sofra. Posso afirmar que você voltará a sorrir alguma hora. ― E dizendo isso,
virou-se e caminhou até a saída.
Ainda
aturdido o jovem fitou o pulso do velho homem em busca de uma constatação.
Estava lá. A mesma tatuagem que um dia optou fazer, um pouco mais desbotada,
mas lá, palavra por palavra. “Until the very end”. Ele conseguiria lê-las mesmo
num nível máximo de embriaguez, afinal, elas eram parte dele... Até o fim.
Caleb Henrique
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.