Olá, Viajantes! Como estão?
Faz um tempo desde o último vídeo da sessão Correeeios! né? Estou sem câmera, mas já fiz a compra de uma nova e assim que ela chegar gravo um vídeo novo, que provavelmente será enorme, já que eu terei muita, mas muita coisa para mostrar. haha
Fiquei em dúvida entre postar um texto ou uma lista de indicações e, por falta de tempo, escolhi novamente um texto. Eu sei, eu sei, o blog está vivendo de textos e resenhas, mas faz um tempão desde a última vez que eu resolvi parar em frente a TV e ver um filme, então, está explicado a falta com o "Das páginas para as telas", de qualquer modo, paremos com a delonga e vamos a um texto que fiz há um tempo e que tinha como pretensão ser uma carta para a Má, amiga e ex-namorada. Vamos lá?
Em certa calçada havia um jovem pintor em busca de inspiração. Buscava o que pintar e já estava por desistir quando a viu. Era jovem, provavelmente um ou dois anos mais nova que ele, tinha cabelos negros e aparentava pesar pouco mais de quarenta quilos. Pensou numa forma de abordá-la sem parecer inconveniente ou abusado, o que acontecia com grande frequência. Tinha de ser rápido, pois ela caminhava em sua direção.
THE SMILE OF AN ANGEL
Em certa calçada havia um jovem pintor em busca de inspiração. Buscava o que pintar e já estava por desistir quando a viu. Era jovem, provavelmente um ou dois anos mais nova que ele, tinha cabelos negros e aparentava pesar pouco mais de quarenta quilos. Pensou numa forma de abordá-la sem parecer inconveniente ou abusado, o que acontecia com grande frequência. Tinha de ser rápido, pois ela caminhava em sua direção.
— Boa tarde, moça. Desculpa lhe parar
assim do nada, mas estava aqui em busca do que pintar quando a avistei e, sem
nenhuma malícia, confesso que você é exatamente a imagem que eu buscava.
Importar-se-ia se eu a pintasse?
— Perdão, moço.
Estou um pouco apressada, na verdade — disse hesitante — mas em outra oportunidade me
sentiria lisonjeada. — e seguiu caminhando apressadamente.
— Moça — disse o jovem pintor. Ela virou e o fitou,
surpresa. — Entendo sua pressa, mas peço-te um favor apenas. Pode me
presentear com vosso nome?Ela sorriu — quem
era, afinal, aquele sujeito esquisito?
— Chame-me
apenas de Má.
― Até mais
ver, Má. E obrigado pelo sorriso.
Ela deu
uma gargalhada surpresa e nervosa, virou-se e seguiu seu destino. ― Obrigado
pelo sorriso, veja só… ― pensava.
O jovem
pintor pegou o pincel e tentou vê-la outra vez, ali mesmo naquela
tela. Foi pintando cada detalhe que sua memória fotografou. O pálido de
seu rosto, o avermelhado de seus lábios, seu nariz e o tom levemente corado de
suas bochechas ao sorrir. Ah, o sorriso, como poderia ser possível trazer à
tela toda aquela luz que ele emanava? Lentamente foi pintando sem perceber as
horas passando e a noite chegando. Nem ao menos percebeu o aglomerado de
curiosos que iam e viam, paravam e observavam por alguns instantes antes de
seguir seus caminhos em meio ao mar de gente. Pincelava como se este fosse seu
último quadro, sem pressa, sem afobamento, absorvendo e passando um pouco de
sua própria vida para que ela ali também vivesse. Seguiu pintando seus cabelos
negros, que seus olhos não deixaram de notar ter um lado maior que o outro, sob
os ombros. A camiseta branca, com estampa do Mickey Mouse e o modo como seus
ombros arquearam-se quando lhe sorriu. Não faltava muito, embora ainda faltasse
a tarefa crucial, que poderia salvar ou destruir a pintura. Os olhos. Tinha
olhos oblíquos, não podia deixar de salientar. E misteriosos como o diabo.
Daria tudo para conseguir decifrar os mistérios ali contidos, embora tivesse
quase certeza de ser uma tarefa impossível. Aqueles olhos continham o mistério
da vida, um pouco de desinteresse sobre tudo e ao mesmo tempo uma fascinação
levemente encoberta. Não sabia descrevê-los, mesmo tendo-os claramente fixados
na memória. Temia não ser capaz de pintá-los. Não parecia possível fazê-lo e
por alguns instantes cogitou a possibilidade de pintá-la com olhos cerrados,
mas lhe pareceu uma tremenda covardia e egoísmo privar o mundo de conhecer as
maravilhas contidas naquele olhar. O fez, como se numa espécie de transe,
pincelada por pincelada. Temia pelo resultado, mas não podia mais parar.Estava
feito. Não havia necessidade de retoques ou efeitos, tinha certeza. Saiu do
transe, a sensação era a mesma de quem acorda de um cochilo acompanhado por um
sonho. Fitou a tela e surpreendeu-se. Ela estava ali, sorrindo. Havia
conseguido.
Fitou cada detalhe do retrato meio-corpo que sua mente captou: ombros, pescoço, queixo, aquele lindo sorriso que mesmo com o aparelho metálico emanava uma luz que tentava escapar da tela e cegar-nos como punição por ver tamanha beleza a olho nu. E os olhos. Ah! Que olhos! Envolviam-no de uma forma hipnotizante e sentia vontade de passar a vida tentando desvendá-lo. Má. Esta sem dúvida era sua obra prima e, como tal, precisava de um nome. Não precisou pensar duas vezes antes de decidir-se, chamá-la-ia “The smile of an Angel”, o sorriso de um Anjo. Um anjo que ele nunca voltaria a ver, afinal, o destino não poderia ser tão generoso. O sino do relógio badalou oito vezes. Como o tempo pôde ter passado tão rápido? Reuniu seus instrumentos de trabalho e cuidadosamente carregou a tela até seu apartamento, que ficava apenas há algumas quadras de distância. Ao chegar, observou a pintura uma vez mais. Não podia vendê-la, pensou consigo mesmo. Nunca poderia. Tomou uma ducha e deitou-se, tornou a fitar o quadro e sua mente divagou — Chame-me apenas de Má ― até adormecer.
Fitou cada detalhe do retrato meio-corpo que sua mente captou: ombros, pescoço, queixo, aquele lindo sorriso que mesmo com o aparelho metálico emanava uma luz que tentava escapar da tela e cegar-nos como punição por ver tamanha beleza a olho nu. E os olhos. Ah! Que olhos! Envolviam-no de uma forma hipnotizante e sentia vontade de passar a vida tentando desvendá-lo. Má. Esta sem dúvida era sua obra prima e, como tal, precisava de um nome. Não precisou pensar duas vezes antes de decidir-se, chamá-la-ia “The smile of an Angel”, o sorriso de um Anjo. Um anjo que ele nunca voltaria a ver, afinal, o destino não poderia ser tão generoso. O sino do relógio badalou oito vezes. Como o tempo pôde ter passado tão rápido? Reuniu seus instrumentos de trabalho e cuidadosamente carregou a tela até seu apartamento, que ficava apenas há algumas quadras de distância. Ao chegar, observou a pintura uma vez mais. Não podia vendê-la, pensou consigo mesmo. Nunca poderia. Tomou uma ducha e deitou-se, tornou a fitar o quadro e sua mente divagou — Chame-me apenas de Má ― até adormecer.
As batidas na porta o fizeram abrir os olhos e levantar num
salto. Já havia amanhecido. Quem podia ser a essa hora? Não costumava receber
visitas. Coçou os olhos tentando afugentar o sono e caminhou até a porta para
enxotar o vendedor que o acordara. Abriu a porta e não pôde acreditar no que
via. Era ela.
Caleb Henrique
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.