25 de set. de 2012

Diário de Bordo #5

postado por Caleb Henrique


Olá, viajantes! Como eu senti falta do Diário de Bordo!
Como contei antes, tenho alguns textos que escrevi durante a ausência, então, nada melhor que compartilhar um deles com vocês, certo? Fiquei em dúvida sobre qual postar primeiro e me decidi por este, que é menor.
Então, vou parar de enrolar e ir direto ao que interessa:


LITTLE BIRDS CAN REMEMBER




Dali tinha a visão parcial de toda a magnitude da cidade em que viveu toda sua vida, agora cheia de prédios, multinacionais diversificadas e um trânsito beirando o caos. Lembrou-se de quando criança, todas as intermináveis brigas entre seus pais, que sempre o levavam até ali, no topo daquele prédio centenário. Era uma criança corajosa, lembrava. Costumava chegar ao parapeito, abrir os braços, sentir o vento no ápice de toda sua fúria e de olhos fechados imaginar que voava para longe como um livre pássaro. Quis fazer o mesmo agora, mas o medo prevaleceu. E se eu caio que hão de dizer? Provavelmente que deixei a fraqueza sucumbir e pus um fim em minha própria vida. Não. Não seria prudente à minha reputação e status, não depois dos anos que levei e suei para erguê-la. Continuava observando as ruas, agora apinhadas de carros, motocicletas, ciclistas e pedestres e jurou poder ouvir os xingamentos dos atrasados que, na falta de quem culpar, culpavam Deus. O trânsito é, em sua maior parte, um vai-e-vem que não cessa. Encheu-se de uma coragem que não sabia possuir, aproximou-se do parapeito e abriu os braços. A sensação é a mesma de anos atrás, não há como negar. Fechou os olhos e foi tomado por lembranças e devaneios aos quais há muito não mais se permitia.
— Que lugar incrível! Como nunca vim aqui antes? — sorria — Nem ao menos encontro palavras para expressar tal magnitude.
— Não fale nada, antes você precisa sentir algo — dizendo isso ensinou-lhe seu voo.
— Veja! Sou um pássaro! — sorria largamente.
— Se você é um pássaro, também sou.
— Sou, és, somos e seremos pássaros por cada dia de nossas vidas, onde quer que estejamos.
Beijaram-se e surpreenderam-se por um forte vento que carregou seu chapéu. Riram descontroladamente e voltaram para onde pararam. Rapidamente a lembrança deu lugar a outras. Mais beijos cumplicidade cartas trocadas fotografias tiradas — e meses depois rasgadas. A notícia da mudança — não vá, case-se comigo. — a discussão o trem partindo enquanto era inconscientemente velado por lágrimas incessantes, mas nenhuma despedida.
Agora estava ali, anos depois, perguntando-se se estava fazendo o correto. Tirou o celular do bolso e releu a mensagem de texto provavelmente pela enésima vez. “Passarinhos lembram. Encontre-me amanhã no lugar de nosso primeiro voo.”
O que dizer depois de todos esses anos? Não, não. É melhor eu ir embora. Decidiu-se. Deu meia volta e caminhou em direção a porta, que lentamente se abriu, dando lugar aqueles olhos e o perfeito sorriso, que não parecem ter envelhecido um único dia. Surpresa.
— Então você veio.

Caleb Henrique



Agora, me conte: como está, o que está lendo, o que achou do texto?
Responderei a todos os comentários :)


Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.