Olá, viajantes! Como eu senti falta do Diário de Bordo!
Como contei antes, tenho alguns textos que escrevi durante a ausência, então, nada melhor que compartilhar um deles com vocês, certo? Fiquei em dúvida sobre qual postar primeiro e me decidi por este, que é menor.
Então, vou parar de enrolar e ir direto ao que interessa:
LITTLE BIRDS CAN REMEMBER
Dali
tinha a visão parcial de toda a magnitude da cidade em que viveu toda sua vida,
agora cheia de prédios, multinacionais diversificadas e um trânsito beirando o
caos. Lembrou-se de quando criança, todas as intermináveis brigas entre seus
pais, que sempre o levavam até ali, no topo daquele prédio centenário. Era uma
criança corajosa, lembrava. Costumava chegar ao parapeito, abrir os braços,
sentir o vento no ápice de toda sua fúria e de olhos fechados imaginar que
voava para longe como um livre pássaro. Quis fazer o mesmo agora, mas o medo
prevaleceu. E se eu caio que
hão de dizer? Provavelmente que deixei a fraqueza sucumbir e pus um fim em
minha própria vida. Não. Não seria prudente à minha reputação e status, não
depois dos anos que levei e suei para erguê-la. Continuava observando as ruas,
agora apinhadas de carros, motocicletas, ciclistas e pedestres e jurou poder
ouvir os xingamentos dos atrasados que, na falta de quem culpar, culpavam Deus.
O trânsito é, em sua maior parte, um vai-e-vem que não cessa. Encheu-se de uma
coragem que não sabia possuir, aproximou-se do parapeito e abriu os braços. A
sensação é a mesma de anos atrás, não há como negar. Fechou os olhos e foi
tomado por lembranças e devaneios aos quais há muito não mais se permitia.
— Que
lugar incrível! Como nunca vim aqui antes? — sorria
— Nem ao menos encontro palavras para expressar tal magnitude.
— Não
fale nada, antes você precisa sentir algo — dizendo
isso ensinou-lhe seu voo.
— Veja!
Sou um pássaro! — sorria
largamente.
— Se
você é um pássaro, também sou.
— Sou, és, somos e seremos pássaros por cada dia de nossas vidas, onde quer que
estejamos.
Beijaram-se
e surpreenderam-se por um forte vento que carregou seu chapéu. Riram
descontroladamente e voltaram para onde pararam. Rapidamente a lembrança deu
lugar a outras. Mais beijos cumplicidade cartas trocadas fotografias tiradas —
e meses depois rasgadas. A notícia da mudança — não vá, case-se comigo. — a discussão o trem partindo
enquanto era inconscientemente velado por lágrimas incessantes, mas nenhuma
despedida.
Agora
estava ali, anos depois, perguntando-se se estava fazendo o correto. Tirou o
celular do bolso e releu a mensagem de texto provavelmente pela enésima vez. “Passarinhos
lembram. Encontre-me
amanhã no lugar de nosso primeiro voo.”
O que
dizer depois de todos esses anos? Não, não. É melhor eu ir embora. Decidiu-se. Deu meia
volta e caminhou em direção a porta, que lentamente se abriu, dando lugar
aqueles olhos e o perfeito sorriso, que não parecem ter envelhecido um único
dia. Surpresa.
— Então
você veio.
Caleb Henrique
Responderei a todos os comentários :)
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.