Tudo começa com uma tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. Logo o caderno de Laurel está repleto de mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Heath Ledger, Judy Garland, Elizabeth Bishop… apesar de ela jamais entregá-las à professora. Nessas cartas, ela analisa a história de cada uma dessas personalidades e tenta desvendar os mistérios que envolvem suas mortes. Ao mesmo tempo, conta sobre sua própria vida, como as amizades no novo colégio e seu primeiro amor: um garoto misterioso chamado Sky. Mas Laurel não pode escapar de seu passado.
Avaliação: 5/5 + FAV.
Essa
resenha é um pouco diferente do habitual, pois a escrevi em forma de carta
- e
a primeira vez que falo sobre alguém muito especial -
então, não peço perdão,
mas que a leia, pois ela tinha de ser assim.
Querida
Eni,
Recentemente
li um livro chamado Cartas de Amor aos Mortos, da Ava Dellaira e não consegui
deixar de pensar que, muito provavelmente, ele também viria a chamar sua
atenção — te instigar.
O
livro foi lançado no Brasil pelo selo Seguinte da Companhia das Letras e
através de cartas inusitadas — como esta que agora lhe escrevo — conta a
história de Laurel, uma jovem aluna mediana que, aparentemente, carrega um peso
imenso no peito. A proposta das cartas surgiu na aula de inglês e foi a
primeira tarefa do ano letivo: escrever uma carta para uma pessoa que já
morreu. Laurel escolheu o Kurt Cobain, que era o músico favorito de sua irmã
May, mas ao invés de entregar, ela guardou e passou a escrever mais delas — inclusive
para outros artistas — como uma forma de desabafo, afinal: ela precisava de
alguém com quem conversar e, consequentemente, contar sua história.
Sei que esse não foi o primeiro livro inteiramente escrito por meio de cartas, mas foi um dos que, ao meu ver, melhor abordaram a temática ‘morte’ e todas as suas complexidades e consequências. As cartas são indiscutivelmente bem escritas, uma vez que o livro é apadrinhado por Stephen Chbosky, autor do best-seller que recentemente virou filme: As Vantagens de Ser Invisível, de modo que não tinha como dar errado — o que não torna menos incrível o fato de ser o livro de estreia da Ava.
Acontece que, apesar de abordar um tema um tanto mórbido e comumente considerado forte, Cartas de Amor Aos Mortos é um livro de leitura fácil e pode facilmente ser lido em poucas horas. Eu, particularmente, tentei adiar um pouco o fim — protelei, pois não quis dar adeus a Laurel, sabe? Me apeguei as personagens e sua humanidade visível e é difícil imaginá-los como ‘simples personagens de livros’, pois isso não os torna menos reais. Mas, é claro, cheguei ao desfecho e só consegui me perguntar: o que você acharia? Tenho certeza que ia amar, afinal, como não amar um livro onde a personagem, na maioria das vezes, parece falar com você? Um livro tão humano que em certos momentos me levou às lagrimas? — engraçado como eu sempre choro com dramas, já percebeu? Acho que sim.
O
tempo passou tão rápido, mas ainda é difícil falar de você sem sentir sua
falta, Eni. É difícil clicar no botão "publicar"
e saber que nessa postagem não haverá um comentário iniciado com “Caleb querido” ou que o Dose Literária não vai mais ter mais nenhuma
de suas incríveis indicações, mas nada se compara a felicidade de ter te
conhecido e, indiferente a distância ou quantidade de conversas, a certeza de
que nossa amizade nunca foi unilateral. Por fim, separei — é claro — uma
citação para te mostrar:
Talvez ao contar as histórias, por pior que sejam, não deixemos de pertencer a elas. Elas se tornam nossas. E talvez amadurecer signifique que você não precisa ser uma personagem seguindo um roteiro. É saber que você pode ser a autora. (pág. 312)
Você foi autora da sua — em todos os aspectos — e plantou sementes nos corações de muito mais gente do que imagina. Sementes que brotaram, cresceram e seguem sendo regadas. Por muito e muito tempo.
E
como há braços, (todos os meus) abraços.