Olá, Viajantes!
Senti tanta falta do Diário de Bordo — e tomara que vocês também!Confesso que esse não era o post que programei para hoje, mas por ser uma data especial, fui acometido por essa vontade de louca de escrever. Hoje é aniversário de uma das pessoas mais especiais [E LOUCAS] que já cruzaram o meu caminho e é inteiramente para ela que o texto é dedicado:
ON THE ROAD
Os
dias passavam sem nenhuma alteração brusca. Trabalho. Rotina. Um ou dois sorrisos
corriqueiros, mas nada tão grandioso quanto o que silenciosamente pedia sua calorosa
alma. Seguia a vida por seguir. Sem esperar muito — ou, talvez, esperando tudo.
A
decisão veio de supetão. Iria viajar. Algumas ligações, uma necessidade
camuflada de precisão — uma desculpa justificável, ao menos — e logo as
passagens estavam compradas. Uma vez
mais deu início ao difícil processo de fazer as malas. Acredito que fazer as
malas é umas das coisas mais saborosas e, ao mesmo tempo, mais assustadoras que
existem. A gente sempre acha que sabe o que nos espera, enquanto escondemos lá no fundo
a certeza de que o acaso é imprevisível. Não levaria muita coisa, isso é certo.
O foco principal da viagem seria buscar. Buscar o quê? Eis a questão. Alguns pertences
esquecidos ou uma resposta da vida, talvez. Isso era o que menos importava. Ela
nunca saberia com certeza o porquê de as pessoas irem embora, mas acabara de
descobrir por que elas voltam.
Malas
prontas e coração disparado, logo estaria voando rumo
ao lugar para o qual sua mente lhe levava a cada rompante de distração. Não
fazia muito sentido esperar sentada, então decidiu sair para uma breve caminhada.
Por inúmeras vezes fora acometida por um sentimento de nostalgia observando cenas
corriqueiras às quais raramente damos a devida atenção. Observou por alguns
instantes um jovem casal em um banco de praça. Sorvetes nas mãos e o que
parecia ser o cenário de um de seus primeiros encontros. Sorriu consigo mesma enquanto observava a jovem
pedir para que ele lhe deixasse provar um pouco do seu sorvete — e ao vê-los estremecendo
de leve ao saborear o breve choque dos primeiros toques. Lembrou de si mesma
— e dele — em um passado que agora parecia distante demais, sorriu mais uma vez e
seguiu a caminhada. Essa é outra daquelas coisas que me intrigam a mente. O ar
sempre parece diferente quando sabemos que vamos viajar. É como se o dia já
nascesse com um presságio de mudança. De algum modo, tudo parece um pouco mais bonito, como se nunca mais fossemos ver aquela paisagem a qual estamos
tão habituados. Uma chance de guardar os melhores ângulos em nossos corações, talvez. Ou apenas mais uma das coisas que ninguém sabe.
Já
no aeroporto viu uma cena comovente de reencontro. Uma garotinha corria em
direção aos braços de sua mãe que de braços abertos a segurou e beijou o topo
de sua cabeça. Sentiu a saudade apertar um pouco seu peito — era inevitável
pensar em sua própria mãe. Perguntava-se se ela sentiria orgulho ao ver quão
forte havia se tornado. Sabia a resposta e que ela sempre estaria ao seu lado, mas
trocaria toda essa força por mais um abraço. Foi tirada de seu devaneio pela
chamada de seu embarque. Havia chegado a hora. Embarcou. Fez uma prece silenciosa
e, enquanto o avião decolava, sussurrou um até logo — embora bem lá no fundo
quisesse que fosse um adeus.
Ao
desembarcar, em plena madrugada, o viu. Parecia uma eternidade desde a
última vez que se viram e ela não percebeu que estava correndo até se jogar em
seus braços. Ele a abraçou forte, e seu abraço era ainda melhor do que a cena que ela fantasiara
tantas vezes em sua mente, sentiu o roçar dos lábios dele em seu ouvido,
seguido pela rouquidão de sua voz. — Eu sei que já passou da meia-noite, mas —
ele sussurrou — feliz aniversário, meu amor. Durante todo o dia ninguém viu, soube
ou desconfiou de que era o dia de seu aniversário. Guardou para si mesma o
maior dos presentes. Segurou o rosto dele, sorriu e o beijou. Era bom estar de
volta.
Caleb Henrique
Peço, por fim, sua opinião sincera nos comentários (ela é muito importante para mim).
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.