O Rube nunca amou nenhuma delas. Nunca se importou com elas. Nem é preciso dizer que Rube e eu não somos muito parecidos em matéria de mulher. Cameron Wolfe é o caçula de três irmãos, e o mais quieto da família. Não é nada parecido com Steve, o irmão mais velho e astro do futebol, nem com Rube, o do meio, cheio de charme e coragem e que a cada semana está com uma garota nova. Talvez ele tenha algo a dizer, e talvez suas palavras mudem tudo: as vitórias, os amores, as derrotas, a família Wolfe e até ele mesmo.
Avaliação: 5/5
Eu, fã assumido que sou de A Menina Que Roubava Livros (lido, por mim, seis vezes) e do Markus Zusak, sem sobra de dúvida, fiquei animado ao descobrir que A Garota Que Eu Quero teria seu lançamento brasileiro feito pela Editora Intrínseca, que gentilmente cedeu-me um exemplar. Quis devorá-lo, confesso, mas neguei-me temporariamente esse prazer. Li aos poucos. Saboreei cada palavra, temendo a hora em que elas cessassem, mas como o fim é inevitável, cá estou.
UMA NOTA DO RESENHISTA
Alguns livros você lê. Outros (poucos) leem você.
Ainda falando sobre confissões, assumo: o Zusak, através de suas palavras, tem o dom de me deixar estarrecido, sorridente, destroçado, mas, principal e inevitavelmente, apaixonado. Suas personagens tem uma vida diferente das outras. São sempre pessoas normais, com trejeitos e manias não tão incomuns, mas vistas de um ponto de vista intimamente impressionante. Isso sem falar do inevitável, ele costuma nos avisar quando tragédias estão prestes a acontecer, creio que para nos dar a oportunidade de fugir enquanto há tempo, talvez. Mas há algo, não sei o que, que nos impede de fazê-lo, que nos pede para ficar e suportar a dor, se ela vier.
Cameron Wolfe é um cara um pouco solitário. Fala pouco, pensa muito; e não tem amigos (o que, provavelmente, te leva a imaginar que ele não passa de uma causa perdida), mas tem um coração imenso. Um dos maiores que alguém pode um dia chegar a conhecer. ‘A garota que eu quero’, quarto e último livro povoado pela Família Wolfe (calma, eles podem ser lidos fora de sequência), entre outras coisas, conta-nos sobre:
- Um garoto.
- Sua fome.
- Seu sangue.
- Uma garota.
- Seus medos.
- Segredos.
- Verdades.
- E o quanto uma vida normal pode vir a ser bela.
A escrita do Markus é uma delícia (na verdade é muito mais, mas não existe palavra boa o suficiente para descrevê-la piamente), o que torna a leitura rápida e fácil. Você se vê realmente envolto e presente em qualquer cenário, da residência dos Wolfe à estação; ou mesmo glebe. Você não apenas visualiza-os, você está lá. E eu nunca vou me cansar disto.
Cameron (a quem de agora em diante chamarei de Cam) encontra nas palavras um refúgio. Dessa forma, o livro intercala entre um capítulo e suas palavras; que, cá entre nós, são lindas. E não apenas o Cam, como todas as outras personagens do livro, são completa e absurdamente cativantes; destaque à Octavia, Sarah, Rube e Steve.
Romance, drama e conflitos pessoais e familiares, além das já citadas personagens cativantes e vívidas, são apenas alguns dos pontos que levaram este a tornar-se um de meus livros prediletos. Os outros, você precisará descobrir por si só — e eu, sinceramente, seguiria meu conselho.
Depois de tentar, tentar e tentar um pouco mais, consegui me decidir por um único quote, que não é o meu predileto dessa vez (porque o predileto conta mais do que quero contar), mas é um dos, portanto, apreciem:
MÃOS QUE APLAUDEM
— Qual é a do som de mãos aplaudindo? — pergunto. (...)
— Por que ele parece um mar de som, como ondas quebrando em cima da gente?
Por que faz a maré virar dentro de nós?
Agora só penso nisso.
Talvez seja porque é uma das coisas mais nobres que os seres humanos fazem com as mãos.
Digo, os seres humanos cerram as mãos em punhos.
Usam-na para ferir uns aos outros e para roubar as coisas.
Quando os humanos batem palmas, é o único momento em que se unem para aplaudir outros seres humanos.
Acho que os aplausos existem para conservar coisas.
— Eles mantêm unidos os momentos a serem lembrados — comento, baixinho.
(pág. 85)
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços!