Em uma noite fria, numa improvável esquina de Chicago, Will Grayson encontra... Will Grayson. Os dois adolescentes dividem o mesmo nome. E, aparentemente, apenas isso os une. Mas mesmo circulando em ambientes completamente diferentes, os dois estão prestes a embarcar em um aventura de épicas proporções. O mais fabuloso musical a jamais ser apresentado nos palcos politicamente corretos do ensino médio.
Avaliação: 5/5
Mais um livro do John Green — em
parceria com o David Leviathan, que me era desconhecido até então — fazendo-se
presente nas livrarias e estantes brasileiras, trazido desta vez pela Galera
Record, que fez um trabalho impecável e excepcional na tradução da obra (uma
salva de palmas para a Raquel Zampil), mas, em minha mais honesta opinião — da
qual você tem todo o direito de discordar, pecou (e muito) ao modificar o
título original — e adicionar um subtítulo — que, pelos motivos que explanarei
mais a frente, poderia ter sido mantido.
É com personagens incrivelmente
palpáveis e realísticos o suficiente para habitar a casa vizinha e, para minha
felicidade, a quantidade exata de nerdice
e metáforas que o John Green nos acolhe de braços abertos no primeiro capítulo,
seguido pelo David Leviathan que nos apresenta um mundo e personagens
tristemente diferentes do primeiro, mas com uma característica bastante pessoal
em comum: o nome. Ambos os personagens principais desta obra chamam-se Will
Grayson e, vencendo toda a improbabilidade de um desencontro, tiveram os
destinos cruzados.
O Will I (John Green) tem Tiny Cooper
como melhor (e único) amigo desde o fundamental, uma amizade que prevaleceu
mesmo depois de o Tiny (anos depois) confessar-se gay. E, ele não brinca ao
enfatizar que o Tiny é o cara mais gay — e gigantesco — que habita a face dessa
terra. Se o Tiny pudesse ser definido em uma única palavra, seria: fabuloso. O
fato é que desprovido do mínimo que seja de status e contato social ou qualquer
desejo de reverter este quadro o Will I é constantemente chamado de robô por
Tiny, que insiste em afirmar que o mesmo é desprovido de qualquer tipo de
emoção, talvez pelo fato de o cara não chorar desde seu aniversário de sete
anos de idade. Mas a verdade é que o Will I prefere seguir duas regras que ele
mesmo se impôs: 1. Não se importar muito com nada. 2. Calar a boca. Outra
personagem da qual eu não poderia deixar de falar é Jane, por quem me apaixonei
perdidamente.
Em contrapartida temos o Will II
(David Leviathan) que é um personagem um tanto (bastante) depressivo e
revoltado (para ser gentil). Suas primeiras palavras são “vivo constantemente
dividido entre me matar e matar todos à minha volta. essas parecem ser as duas
opções. tudo o mais é só para matar o tempo.”. Ele leva uma vida pobre, vive
apenas com a mãe e tem poucos amigos de escola, a mais próxima dentre todos é
Maura, a quem ele (inutilmente) tenta magoar o mínimo possível com seu humor
ácido. A salvação de seus dias está, todas as noites, do outro lado da tela de
um computador: chama-se Isaac.
Dizem que este livro é voltado ao
público homossexual, mas eu discordo: este livro é, acima de tudo, voltado a
qualquer um que seja possuidor da capacidade de raciocínio e aceitação do outro
como se é. Não é o primeiro livro a possuir um casal homossexual que leio e,
neste ponto, me pareceu um romance tão normal quanto qualquer outro. Então, se
você tiver algum receio — como eu tive — de se aventurar com esta leitura,
insisto: vá em frente e dê uma chance ou, do contrário, estará perdendo uma
excelente leitura e a imensa gama de sabedoria que pode ser extraída dela.
A estruturação do livro não tem nada
muito diferente da maioria dos escritos em parceria e possui capítulos
intercalados, o que é completamente plausível. A maravilhosa escrita do John
dispensa maiores comentários, mas preciso salientar que, de início (até me
acostumar), fiquei realmente aflito com o modo de escrita do Leviathan, mas
isso nem de longe afeta a qualidade e o interesse na obra. É um livro rápido,
daqueles que faz com que sintamos medo de tirar os olhos por um minuto e ter
perdido algo grande. E eu o devorei.
Para ser honesto eu ainda tenho muito
a dizer sobre a obra, mas assumo já ter dito o suficiente e deixado inúmeros
espaços para surpresa de vocês, então, voltarei ao assunto em aberto: a
tradução do título. O título original do livro é will grayson, will grayson, o que faz todo sentido, tendo em vista
que a probabilidade de dois Will Grayson’s se esbarrarem por aí é tão remota
quanto a de dois Caleb Henrique’s; enquanto Will & Will deixa uma gama
imensa de possibilidades e tira um pouco do sentido original do título.
Com isto esclarecido, reafirmo: Will
& Will é uma obra incrível.
E, é claro, saciarei a curiosidade de
vocês com um dos meus trechos prediletos:
— Temos de abrir a caixa — continua ela.
— Hã — digo. Dou um passo à frente para poder fechar a porta atrás de mim, mas ela não recua, então agora estamos quase nos encostando. — O gato tem namorado — ressalto.
— Na verdade, eu não sou o gato. O gato somos nós. Eu sou uma física. Você é um físico. O gato somos nós.
— Hã, ok — retruco. — A física tem namorado.
— A física não tem namorado. A física deu o fora no namorado no jardim botânico porque ele não parava de falar que ia pras Olimpíadas de 2016, e havia essa vozinha na cabeça da física chamada Will Grayson, dizendo: 'E nas Olimpíadas você vai representar os Estados Unidos ou o Reino da Babacolândia?' Então a física rompeu com o namorado e insiste que a caixa seja aberta, porque ela, tipo, não consegue parar de pensar no gato. A física não se importa se o gato estiver morto; ela só precisa saber.
Apesar do meu receio inicial com a
obra, confesso: Will & Will foi um livro deliciosamente surpreendente e, em
meu ponto de vista, a probabilidade de que você venha a decepcionar-se com a obra
é mínima, quase nula.
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.