28 de jun. de 2013

Vida após a morte - Damien Echols

postado por Caleb Henrique

Intrínseca, 2013, 400 páginas. (Skoob) 
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Aos dezoito anos, Damien Echols foi apontado como líder de um grupo satanista e principal responsável pelo assassinato de três garotos de oito anos em West Memphis, no Arkansas. Após um julgamento marcado por falsos testemunhos, provas manipuladas e histeria pública, em 1994 seus amigos Jason Baldwin e Jessie Misskelley foram condenados à prisão perpétua, e Damien foi enviado ao corredor da morte, onde aguardaria sua execução. As irregularidades gritantes no desenrolar do processo, bem como a apatia dos advogados de defesa, chegaram ao conhecimento do público dois anos depois, quando a história conquistou repercussão mundial através de um documentário. Nos anos seguintes, foram produzidos outros três documentários sobre o caso e a causa foi abraçada por celebridades de Hollywood, que se empenharam vigorosamente para que a justiça fosse feita, o que culminou com a libertação do trio de West Memphis em 2011.

Avaliação: 4/5



Tentei por diversas vezes encontrar as palavras certas para iniciar esta resenha, tendo em vista o quanto esse livro me tocou a alma e decidi iniciar com as palavras do próprio Damien, que ainda no prólogo confessa: “Fico aborrecido de imaginar as pessoas lendo minhas palavras por curiosidade mórbida. Quero que leiam o que escrevo porque isto tem um significado para elas – seja por fazê-las rir ou por lembrá-las de coisas esquecidas que em algum momento tiveram importância para elas, ou simplesmente por comovê-las de algum modo. Não quero ser uma bizarrice, uma aberração ou algo que desperta curiosidade. Não quero ser o acidente de carro que todos param para olhar.” e acrescenta “Se alguém começar a ler porque deseja ver a vida a partir de uma perspectiva diferente, ficarei satisfeito. Se lerem para saber como é a vida pelo meu ponto de vista, fico feliz.” e com isto esclarecido, tomo enfim a palavra.

Lembro-me de ter, há muito, lido a respeito do ‘West Memphis Three’ (nome com o qual o caso ficou conhecido), mas não consigo lembrar onde ou o meu parecer anterior, que certamente não foi nem de longe tão cheio de revolta, repulsa e admiração quanto agora, pois diferentemente do que os filmes, seriados e até mesmo alguns livros nos mostram, Damien nos apresenta a outra face da justiça americana, e quão injusta e errônea ela pode vir a ser.

Composto quase completamente por trechos de antigos diários dos tempos de prisão (dos que conseguiram sobreviver sem serem destruídos por outros presidiários ou confiscados pelos policiais) o livro consegue a façanha de retratar épocas diversas da vida do autor, não precisando ser seguida uma ordem especifica para a compreensão do mesmo, mas principalmente de forma absolutamente coesa e isenta de confusão, o que eu achei louvável. Meu exemplar é uma prova de impressa (versão encadernada e um pouco diferente da final), mas a estruturação e formatação da obra estão muito boas e, exceto umas partes quase totalmente escritas em itálico (trechos de cartas) que me afligiram um pouco, eu não vi motivo algum para reclamação.

Vou além e afirmo que durante o livro senti-me realmente em meio a uma conversa franca com um amigo de longa data, que posteriormente descobri ser a forma que Damien quis que o livro tomasse (méritos a ele) e julgo praticamente impossível não sentir empatia pelo mesmo, ainda que não haja nenhum ou o apenas o mínimo conhecimento de causa na maior parte do tempo. Isso sem falar nas diversas lições e reflexões que o livro inevitável e felizmente traz consigo. 

Juro que eu adoraria começar a me enveredar e contar mais sobre o que senti em cada parte do livro, citar todas as alegrias, tristezas e vezes em que quis dar um abraço amigo no Echols, ou bater em alguém, mas seria egoísta de minha parte privar-lhes de sentir isso a sua própria maneira, portanto, digo apenas: Leiam! O livro é incrível e, (in)felizmente, verídico.

É claro que eu não poderia deixar vocês sem um gostinho de quero mais, então, apreciem um dos melhores (dos muitos incríveis) trechos:

Há momentos em que minha mente grita para que meu corpo pare e diz que não é possível continuar por nem mais um segundo. Ignoro a advertência e me esforço para ir além daquele ponto. Apenas com o esforço para superar todos os limites impostos por minha mente e meu corpo é que sou capaz de nadar nas águas escuras que preciso atravessar. É daí que provém tudo que tem valor. É a dor da destruição de meus limites que me permite esquadrinhar a corrente em busca de mensagens em garrafas. Cada uma contém um fantasma e todas sobem a corrente. Não sei quem ou o que joga essas garrafas, pelo menos até agora não descobri. Aqueles com menos curiosidade ou ambição simplesmente murmuram que Deus trabalha de maneira misteriosa. Pretendo pegá-lo com a mão na massa. (pag. 107)

Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.