13 de fev. de 2015

Diário de Bordo #25

postado por Caleb Henrique

Olá, Viajante!
O escrito de hoje é de cunho bem pessoal, mas gostaria de compartilhar com você.


BLACKBIRD

Eu tenho medo.

Quantas vezes já disse isso em voz alta? Reviro a memória e não consigo lembrar de nenhuma ocasião, nem mesmo na infância. Um sussurro ou um meneio em resposta, talvez. Nada mais que isso. Não que eu não os tivesse, é claro. Já tive e ainda tenho meus medos. Muitos bobos, outros inquestionáveis. Todos reais.

Talvez você queira me perguntar quais são e se há um porquê, talvez não. Respondo de qualquer forma: tenho medo de hospital e de morrer afogado. Medo de não ser bom o suficiente. De decepcionar mais e mais quem acredita em mim — e também a mim mesmo. Tenho medo de virar um estranho para alguém que sempre vai ser importante para mim e das voltas que a vida dá. Tenho medo do novo e esse último, às vezes, até é gostoso de sentir, sabe? Um formigamento no estômago e o cuidado de fazer com que dê certo. Novo emprego, nova casa, novos amigos ou amores, não importa; o desconhecido sempre vai me assustar ao mesmo tempo em que instigar. Mas todo mundo — eu, você, qualquer um — tem algum medo que tem medo até de revelar. O maior de todos os medos. Só de pensar já sinto um aperto no peito e uma gota de suor frio começa a brotar. Tenho medo da impotência. Pronto. Falei. Assim. Sem preparação. Tenho medo de viver situações em que não haja nada que eu possa fazer para ajudar e só de pensar já sufoco um pouco e rogo um “que deus me livre”, mas me responda: o que se faz quando não há nada que possa ser feito? Nada que vá realmente adiantar. Claro, às vezes há meios de contornar — distrações, mas o problema segue à espreita e ainda assim não haverá nada a ser feito. Aterrorizante, não é? Eu também acho.

Também tenho medo de voar, mas esse é também um dos meus maiores anseios. Desraigar, abrir as asas e alçar voo. Voar para longe e descobrir que valeu a pena me soltar de tudo o que me prendia ao solo. Voar atrás dos meus objetivos e planos, cada vez mais alto, mas nem sempre para longe, porque passarinhos também voltam ao ninho. Mesmo que brevemente. É nisso que eu penso nas manhãs em que acordo e sinto que tudo parece meio confuso ou muito perdido: em ser mais que um pássaro livre que tem medo de voar.

“Blackbird singing in the dead of night, take these broken wings and learn to fly.
All your life, you were only waiting for this moment to arise.”

Eu tenho medos. Você também.
Quais são os seus?

Caleb Henrique


Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.