Olá, Viajantes!
Estou de volta e com notícias muito, mas muito boas - que irão ao ar amanhã! Enquanto esperamos o YouTube subir o vídeo, que tal ler mais um de meus rascunhos?
AUTUMN
Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza.
(Nietzsche)
Acordara
com a certeza de que o dia seria ímpar. Lavou o rosto, escovou os dentes,
voltou para o quarto e pela janela pôs-se a observar o chão lá fora, agora
forrado por folhas secas; parecia que ele, talvez já sentindo o rigoroso frio
que o inverno logo traria, tentava se aquecer com o imenso cobertor de tons
alaranjados que as árvores gentilmente lhe teciam, na mesma reação involuntária
que nos leva a se encolher embaixo das cobertas em dias chuvosos. O calendário
marcava o quarto dia do outono, mas em seu interior já era outono há muito. O
outono, sabiamente diziam, é tempo de mudanças, transições e queda; mas também
de renovação. Ela gostava, particularmente, do clima ameno e bem dosado que os
dias possuíam nessa época. Nem sempre quentes, nem sempre frios. Uma dosagem
realmente agradável. O velho telefone tocava num cômodo não muito distante
daquele, mas de tão imersa que estava em seu devaneio, ela sequer chegou a
escutá-lo. Um, dois, três toques e assim por diante. Oito no total, seguidos de
um silêncio apaziguador, mas temporário; e então mais um, dois, três toques e
ela lá perdida em si mesma. Não sei quanto tempo se passou dessa forma, mas a
pessoa do outro lado da linha indiscutivelmente tinha urgência e não parecia
propícia a desistir de tentar; Bom, é claro que depois de quinze ou vinte
toques ela escutou e se direcionou até o telefone, mas se engana se pensa que
foi às pressas, não, não; caminhou mansamente e ao chegar ao antigo telefone
azul, parou de súbito e aguardou. Um, dois, três toques... atendeu ao sétimo:
—(silêncio)
—(silêncio)
—(suspiro)
—(silêncio)
—Escuta.
Sei que eu fui um idiota e parti seu coração, assim como sei que nada do que eu
diga poderá mudar ou minimizar esta verdade, mas...
—(silêncio)
—...
tudo bem, você merece alguém melhor, então... Eu vou te deixar viver em paz.
Tchau. — as palavras vieram pausadas, sofridas e intensas.
—
(silêncio)
—
(silêncio)
— vemlogoporfavor — ela sussurrou.
E o que veio a seguir? Mais brigas ou uma transformação, talvez? O que posso
dizer é que aquele, meus caros, foi um outono inesquecível e memorável; E não
apenas para eles. Mas esta, infelizmente, é uma história que terei de deixar para outra hora.
Caleb Henrique
Agora é sua vez: o que tem lido? O que me conta de bom? (risos) SAUDADES!
Assim me despeço, com a promessa de voltar.
E como há braços, abraços.